sábado, 12 de janeiro de 2008

Lajes...frias lajes

Lajes, meu conforto e apoio,
Neste cemitério tão calmo e sombrio
Onde passo horas a fio,
Consigo sentir paz e descanso,
Onde inimagináveis inspirações eu alcanço,
Ao contemplar a casa dos mortos.

Mortos dizem eles
Que não conseguem alcançar,
Mais que a vista pode oferecer,
Mas eu que os sinto
A meu lado,
Digo com regalo,
A companhia que eles me estão a fazer.

Sussuros de encantar,
Pedidos para ajudar
Gritos e gemidos às vezes,
E eu tento não ligar,
Mas comovido pelo sofrimento e solidão,
Lá vou eu dar uma mão,
Ou palavras de conforto.

Àqueles que foram esquecidos,
Pelos outros frios e egoístas,
Mais mortos que estes que jazem aqui,
Em que eu sou testemunha
Da sua incompreensão,
Abandono e solidão.

À noite, este lindo local ganha vida,
Criaturas etérias e cabisbaixas
Deâmbulam pelas sepulturas,
Suas últimas moradas
Frias e nuas,
Mas que serão suas, para a eternidade.

Perdido neste local,
Onde a fantasia e a realidade se abraçam,
Num eterno mistério,
Numa eterna Saudade,
Por aqueles que já partiram.

Mas que nos assombram dia após dia,
Noite após noite,
Com as suas palavras,
Com o destino mais certo,
Desta eterna morada.

Onde larvas fazem crepitar
Como fogo que corrói até ao último pedaço,
Àqueles em que um abraço,
Último desejo, seria de esperar.

Vocês que me compreendem,
Por eu estar mais morto que vivo,
Por ansiar tanto vossa morada,
Seja aqui, ou à beira da estrada,
Apenas paz quero encontrar.

Esquartejado por amor
Onde a ausência de sabor,
Me fez vir ter aqui,
Onde vocês compreendem a mim,
Por estar como outros, tão só...

Amor, fogo e paixão,
Deixam este senão,
De verdadeiro será possível?
Eis a pergunta...
Eis a questão...
Que me assola o coração,
Que palpita em sofrimento,
Mas eu, cá me aguento...

Sabendo ter a possibilidade
De alcançar outra eterna verdade,
De a morte ser quase certa,
Onde violinos tocam em paixão,
Para me receber em alegria
Depois de tanta incompreensão,
Por aqueles que me deviam amar,
Num mundo negro de egoísmo
Superficialidades e ganância,
Apenas aguardo com ansia,
Essa certa morada
Um dia, chegada,
Quando menos esperar.

Ó Anjos caídos,
Vocês que por desilusão,
Mentiras ou submissão,
Que os céus vos obrigaram a aguentar,
Decidiram partilhar, esse sofrimento...
Num mundo onde se podiam refugiar.

Deus é tão cruel
Por deixar as suas criaturas assim sofrer,
Por fingir não estar a ver,
Onde devia auciliar,
Dar um pouco de paz, ajudar...
Ele que diz que todos devíamos amar,
Mas que por negligência assim, não o faz.

O amor não atraz
Nem a compaixão por tão belas criaturas,
Serei eu como deus
Incompreendido e não amado?
Será que ele apenas, sonha ser desejado?
Como outro que cruelmente foi abandonado?...
Talvez sim...
Talvez não...
Digo isto com coração,
Esperança talvez,
Mas não mais uma vez.

Me deixo aqui
Morrer em agonia,
Onde a vida parece mais fria,
Nem calor nos lábios sinto...
É verdade, eu não minto,
Perante esta minha, solidão.

Humanizem-me como os outros
Que se contentam com tão pouco,
Onde mentiras e ilusão,
Lhes enchem o coração,
E não vêm, a verdadeira felicidade.

Aquela que apenas me falta,
Mas que é tudo para mim,
Que era ter te assim,
Encostada a meu lado...

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