O sol tórrido sombreia as árvores e o calor a esgoto sobe e perfuma esta savana citadina.
Sinto cada pedra da calçada sob a sola gasta. Com cuidado evito a gravilha solta, quando o infortúnio acontece um latejar invade a extremidade e terminações nervosas da minha prótese biomecânica que viaja até ao meu cérebro neste atordoar sedativo. Uma dor aguda
que desperta e ao mesmo tempo entorpece os sentidos.
Mais à frente, os prados negros cobrem o solo e germinam em novos brotos, novos caminhos. Floresta de betão cansado... Fibras e sintéticos cobrem o meu corpo.
Os números digitais que vibram no meu pulso prevêem o chiar das linhas de ferro, as portas abrem e entro de forma automática procurando um poiso desocupado.
Viajo ao longo dos muros, das cercas e dos dormitórios que se erguem em sombras destemidas.
A flora nativa e exótica procuram uma simbiose. As horas seguintes são varridas e agitadas.
Danço ao ritmo do coração das máquinas que apitam. Danço para deixar um sorriso na boca daqueles que procuram ser atendidos e outros para que mais um dia seja cumprido, onde queixas, frustrações e denúncias surgem para me assombrar. Deixo a boca falar, deixo ela fazer o seu trabalho, emitindo as mesmas linhas sintáticas vezes sem conta. Poucos são os que valorizam.
Poucos querem saber. A preciosa pausa surge finalmente num frágil e agitado trago. O fumo invadindo as vias respiratórias, o caos e a destruição que inspiro para aliviar as incertezas de amanhã.
Uma esperança alimentada chama após chama. Volátil... Como a vida deve ser
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